terça-feira, 15 de julho de 2008

O nosso admíravel mundo

Existem alguns fatos da vida que intrigam a gente. Ontem assisti ao filme "O Preço da Coragem" (A Mighty Heart, 2007) que conta a história do jornalista Daniel Pearl, assassinado no Paquistão em 2003, enquanto realizava uma reportagem sobre um homem-bomba chamado Richard Reid. O filme é baseado em um livro que Mariane Pearl, esposa de Daniel, escreveu para apresentar a seu filho quem era o seu pai, que morreu enquanto a criança ainda estava na barriga da mãe.

Meu objetivo nesse post não é fazer uma crítica ou análise do filme. Não é a minha área. O que quero fazer é uma crítica a realidade do jornalista. Também não tenho a pretensão de tratar esse assunto como sendo um jornalista qualificado com 30 anos de carreira. Não sou. Sou apenas um estudante que está começando o 2º ano de faculdade. Mas me permito escrever um texto sobre minha futura profissão.

Daniel Pearl era um jornalista que trabalhava havia 13 anos no Wall Street Journal, de Nova Iorque. Era casado com uma outra jornalista, Mariane, e sabia dos riscos de sua profissão. O principal é ser mal-visto por algum entrevistado, e, como diz a gíria, acabar "apagado". O problema é quando você se põe em risco e é mal recompensado por isso. E essa é a realidade do jornalismo em geral.

Por algum motivo nossa profissão é, na minha visão, tida como algo "você não está fazendo nada mais do que seu dever", ignora-se os riscos que passamos para apurar a informação, além da luta pessoal de estarmos em uma profissão um tanto solitária. Por que solitária? Pois é uma profissão em que o cultivo de amigos é muito difícil, já que todos podem ser fontes em potencial, e o estreitamento da relação fonte-jornalista é altamente condenado. Apurar corretamente uma informação é uma missão que está ficando cada vez mais impossível, muitas vezes pelo curtíssimo prazo para fechar a matéria, acaba sendo publicadas "barrigas" enormes. Um caso recente aconteceu no fim do mês de maio, quando um incêndio em uma fábrica de colchões em Moema, bairro da zona sul de São Paulo, virou uma queda de um avião da Pantanal. Virou manchete de sites como o UOL. Meu celular recebeu uma mensagem as 18 horas informando que a Infraero tinha confirmado a queda da aeronave em um edifício comercial. Dez minutos depois a correção: nem a Pantanal, nem a Infraero, confirmavam a queda da aeronave, nada de tragédia, apenas um incêndio e algumas encomendas de colchões que certamente atrasaram. Se uma informação dessas não foi checada antes de ser publicada, acredito que foi pela pressa de dar o "furo", o que dizer de casos grandes?

O caso da escola Base é um exempl.Os diretores dessa escola tiveram suas vidas arruinadas para sempre por causa que todos acreditavam ser verdadeiras as acusações de que eles abusavam sexualmente dos alunos. O caso foi encerrado por falta de provas contra os acusados. Apenas o "Diário Popular" se omitiu e não estampou manchete condenatória. Preferiu esperar, checar, sabia que o delegado do caso gostava de "aparecer". Se deu bem. O caso da menina Isabella seguiu por um caminho diferente, virou novela. Para encerrar esse assunto, um ditado caí bem: "A pressa é inimiga da perfeição".

Sobre o salário o comentário é bem simples.Ganhar 800 reais pra trabalhar mais de 12 horas por dia, e ver limida a sua vida social é uma espécie de tortura. Digo 800 reais pois é o salário de uma assessora de imprensa que esteve esses dias no "Caldeirão do Huck", da Rede Globo, tentando ganhar dinheiro em um quadro do programa. Vale lembrar que a assessoria de imprensa é considera um refúgio de muitos jornalistas que procuram uma certa estabilidade na profissão. O diário esportivo "Lance!", segundo Paulo Vinícius Coelho em seu livro "Jornalismo Esportivo" pagava cerca de 500 reais no seu início, e hoje o salário não passa muito dos 900. Os melhores sálarios ainda estão em grandes redações, como a do jornal "A Folha de S.Paulo", ainda segundo o livro do jornalista.

A pressa, a pressão e o baixo salário (fora algumas doenças que são comuns dos profissionais do jornalismo) me levam a crer que só sobrevive nessa carreira aqueles que nutrirem algo muito forte pelo jornalismo: a paixão. Não qualquer paixão, mas sim aquela paixão de início de carreira, misturada com o entusiasmo. Algo parecido com que parte dos estudantes de jornalismo sentem no começo de sua jornada.

Paixão. Talvez esse seja mesmo o segredo.

Até a próxima
Peterson Munhoz

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